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"Vim pelo caminho difícil, / a linha que nunca termina, / a linha bate na pedra, / a pedra quebra uma esquina, / mínima linha vazia, / a linha, uma vida inteira, / palavra, palavra minha." Paulo Leminski

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ampulheta


De grão em grão
O tempo passa
caro, trágico, de graça.

Silencioso, amigo ou covarde
o tempo passa, é lei
E quando vejo é tarde.
                                                                                                                  Passei...

Dos Ares, Águas e Lugares



Resguardando ideias em silêncio incisivo
calo-me na dor da palavra-esquerda.
Evitando para mim um embate fatal
calo mesquinhas palavras que me causariam perda.

Cinjo-me na paz dos ares, águas, lugares,
na filosofia de um sábio grego
falo só, nas profundezas dos meus vastos mares,
calo-me, por tudo o que me causa apego.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Desabrochar


Amanheço o que sou ao me orvalhar de sol
e liberto-me nos raios luzentes que suo.
Transbordo dos olhos uma cor qualquer
com o despertar faceiro da minha flor reclusa.

Em alvorada, meu ser, a descerrar neblina,
ao quebrar o tempo que me faz confusa
tem o traquinar da menina que se faz mulher
orgulhando os seios que me enchem a blusa.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Facetas intencionais


O que em mim invento, inverto
Quando em mim embarco, proa
O que me é concreto, voa
O que me eleva, pedra
O que me declina, medra
No que permaneço, estrada
O que me afoga, nada.

sábado, 18 de julho de 2009

Incompletude


Mesmo sem saber a causa certa
desejo sempre ser alfa, embora saiba ser beta.

Desejo sempre ser o alvo,
embora saiba ser a seta.

desejo sempre ser algo mais,
embora não esteja certa.

Desejo sempre ter palco
para a timidez que me resta.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Memórias


Ainda que cedo
Desfaleça ali e jaz,
Em lápide fria
Estarei em poesias,
Palavras, paixões, orais.

sábado, 25 de abril de 2009

Derivação


Férteis campos feminis
Arados por primitivos desejos
Útero virado por sonhos febris
Desdenhados no refugar de um beijo

Suspiros de fêmea serpenteando em mim
Boca salivada de Eva a aspirar a maçã
Maria da vida a esperar em botequim
Que um dia, da noite, derive o amanhã.

Minhas Palavras

Se faço versinhos em versões distorcidas,
componho com punhos cerrados.
Palavras pervertidas, criações invertidas a contento,
meus lamentos: negros rumores da alma que às vezes converto
em versos brancos que invento.
Às vezes, portas fechadas,
componho presa a um pé de vento,
ao pé da letra, ao pé da mesa, aos pés de mim mesma.
Tantas vezes caço palavras em palavras mal cruzadas,
em linhas mal traçadas,
quando, mãos amordaçadas, sou eu sempre a frágil presa.
Às vezes represa, comportas abertas,
à livre palavra me prendo.
Fluida liberdade: a busco, abuso, improviso e crio.
Desalinho meus traços, sublinho meus passos,
desafirmo minhas máximas, desonero hemácias, me hidroliso.
Nas redundâncias me encontro,
me asterisco, me pontuo, me reticentencio.
Sem setas, sentenças, parafraseio meus contos,
corrijo meus pontos, me apresso sem metas,
perco o norte, vou ao surreal,
me pego analfabeta, em síntese, sem base,
em plena metástase gramatical.
Com minhas retóricas me calo. Escrevo.
Por instinto, insisto, convenço em silêncio.
Minhas palavras agudas são mudas,
meio ápice, apocalipse, absurdas,
pouco em si cabem,
se cabem, as sobras me invadem.
Mesmo assim componho,
mesmo que tudo se acabe, mesmo que eu volte ao início,
ao rupestre, ao hieróglifo, ao papiro,
que eu caia no precipício do tempo,
que me debata em debates nas Ágoras.
Minhas teorias, meus teoremas,
me pinto um inexato Pitágoras.
Transpiro poemas sob a luz de Apolo,
sob o alívio dos meus eufemismos,
no pouco exagero dos meus delírios,
ou em meus enfáticos paroxismos.
Na tonicidade em meus versos,
na vivacidade das rimas,
às vezes deixo obras mortas
escancarando minhas portas
às minhas quase obras-primas.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Causa e defeito


Por um lapso do pavor,
uma coragem me toma.
lânguida flor-de-jasmim.

Por eclipse do que sou,
uma alegria me doma...
só doma, sou dona de mim.

Por um breve atraso do escuro
lavrado por máculas de luz,
me espasmo em um futuro brilhante.

Por ser tão banal, minha tristeza,
em tudo que me seduz,
traz carnavais no semblante.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Estilhaços


Parto-me em cacos,
Deixo-me ir em estilhaços
Estribilho
Que o meu ocaso rebusca
Luzindo pálidos versos
De amor,
Ingrato filho
Do que me resta
E ofusca.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


Jogo ao cesto os sentidos

Cinco que falham

E um !nvert!do

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Soneto dos Ventos


Trilho destinos em ventos do norte
Solta às amarras do cais,
Presa às arestas da paz
Ao bel prazer, qualquer sorte

Soa-me o aroma da rosa
Nos ventos em versos, ou em vendavais
Mesmo ao ouvir o tom do tempo
No tamborilar da morte

Atento para que a vida
Sussurre suave, qual brisa
Em claves de sol em céu azul

Até que a rosa dos ventos
Em sons, ao cumprir o seu intento,
Me guie aos paradeiros do sul.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Faltas


Falta-me uma parte para virar metade
Me falta um querer para virar vontade

Falta-me a ampulheta, o tempo em mim hiberna
Me sobram muletas no quebrar das pernas

Falta-me uma gota para virar veneno
Me sobra ser pouco em frasco pequeno

Falta-me ser minguante, renovar, ser meia
Me faltam mais fases para poder ser cheia

Falta-me o sentido do que em mim é exato
Falta-me o que sonho, o que exponho,
Sobra o que expõe o meu anonimato.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Aos esquecidos


Lugar onde a luz se esconde
Não se vê fio de memória
Estão lá os esquecidos:
Na periferia da ideia,
Onde não trafega bonde,
Nos bastidores da história.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Passos


Como a efervescência da água
Na áspera areia
Pesco estrelas, perco sonhos
Em redes que teço.
Como encantada, em canto de sereia
Caminho apegada
A mareados passos
De alguém que passa
E ainda não conheço.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Desejo


Vagabundeio.
Não traio o que almejo
Lampejo claro e insano
Em sentimentos profanos
Vertentes de um só desejo.

Trapaça


Fazer poesia é milagre,
Alquimia
Transformar pedra em pão,
Alimentar almas
E deixá-las com sede

Fazer poesia é achar
O que fácil não se acha,
Encontrar, sugerir,
Dar sem receber,
Somar, dividir,
Abstrair.
É trapaça

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Jardins Marginais




Ave, eu
Me atrevo, vôo
Vou no murmúrio das asas
Com a visão de vãos caminhos
Minha amplitude desfaço
Destruo rosas, botões, casas
Rasante sobre os espinhos

Nas trajetórias que traço
Sobrevivo, sobrevôo
Por altitudes infindas
Passeios longitudinais
Em meio a cactos e orquídeas
Entre o suspenso e o rasteiro
Além, em meus jardins marginais.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Errante


Errada, errante
De paradeiro distante
Sempre ao chegar desatina

Nos meus olhos, a menina
A cada sorriso engana
Saudosa sina
Cigana

sábado, 17 de janeiro de 2009

Poesia de Quinta


Porque hoje é quinta
Acordo para dentro
Talvez não minta
Borboletas passarão
Ao meu jardim descuidado
Eu passarinho
Sem caminho
Mal sonhado

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Um dia


Quem sabe um dia
A minha alegria
Eu transgrida em versos
Como quem inova

Quem sabe um dia
À beira-mar da poesia
Galope meus versos
Em cavalos de trovas

Plural


Soa-me plural
Qualquer singular
Se minha alma transborda
E deságua em seu mar