siga as páginas

siga as páginas
"Vim pelo caminho difícil, / a linha que nunca termina, / a linha bate na pedra, / a pedra quebra uma esquina, / mínima linha vazia, / a linha, uma vida inteira, / palavra, palavra minha." Paulo Leminski

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pelos cantos


Escorre dos olhos
o que me turva e neblina
como uma sinfonia de espantos
do que em mim desafina

Mas não há nenhuma novidade
meu canto emudeceu.
Cada canto de mim conta a minha história.
O fim do mundo sou eu.

terça-feira, 2 de março de 2010


A noite assombra e a sombra espalha
espelho, cacos, caos e navalha.
Na luz que engole e vomita o breu
galáxias jorram seu leite fora.

No coito dos astros,
cadente é a estrela do dia
que pra nascer implora
e um filamento de alvorada,
só por decreto da natureza,
tem a certeza de ser aurora.

Sobre as cabeças, o céu escasso,
conspiram os astros, em seu afã.
Um pouco acima do chão, desabo.
Talvez eu nem nasça amanhã!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Plenitude


Se na ida ou na vida
algo não se completa,
remeto-me à plenitude
do que em mim se poeta.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Palavras Cruzadas


Não quero o verso perfeito
ou a sorte de um amor tranquilo
quero um destino audaz.
Não penso na folha seca,
nas tempestades da vida,
no vento ou na flor que cai.
Só vejo a cor das palavras,
as pedras do meu caminho,
encruzilhadas na estrada
de onde eu não saio mais.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Fantasia


Recolho com a concha das mãos
com a alma, com o coração
um pouco de fantasia
tentando romper fronteiras
e dar à minha realidade a alforria.

Fraquejo, cometo enganos
porque, ao traçar os meus planos,
perco sempre a medida
entre a dor da minha chegada
e a alegria da partida.

Hábeas Corpus


Possuída, indefesa,
na primazia do desejo
traduzida na leitura
dos meus grandes lábios,
Hábeas Corpus, deleito-me
me dou, libertina
me moldo, escultura
para ser devorada
por tuas retinas
numa bandeja prateada.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Manhãs


Ultrapasso os meus calmos passos
brincando com o sol.
Despetalo a rubra flor do arrebol.
espantando a neblina de cada manhã que raia.
Descortino sombras, sossego e regaço,
quando, todo dia,
em avessos lençóis de cambraia,
eu nasço.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Autotrofia


Quando, ao apagar da luz,
visto-me de madrugada,
quando, sombria e só,
minha alma medonha vaga
entre os meus becos soturnos,
ou por distantes plagas
como migalhas de luz,
fagulhas no fim da estrada.
Como migalhas de não,
como o que sobra de mim
quando não resta mais nada.